Autor:
Filho de um fabricante de armaduras de nome Sófilo, Sófocles recebeu na infância e juventude uma educação bem tradicional, nos moldes ateniense, ou seja, com valorizando dos aspectos culturais. Ainda na juventude, dirigiu um coral de criança, formado para comemorar a vitória ateniense na batalha de Salamina (480 A.C.).
No ano de 468 a.C, aos 28 anos de idade, participou de um concurso de arte dramática, em que venceu Ésquilo. Porém, foi derrotado, num concurso realizado em 441 a.C, por outro importante dramaturgo da época, Eurípedes. Durante a vida ganhou vários concursos ligados ao teatro e obteve justo reconhecimento da sociedade por seu talento na criação de sátiras e tragédias.
Édipo Rei é uma tragédia grega escrita no ano de 427 A.C.
Livros: Ájax,Antígona,AsTraquínias, Édipo Rei,Electra
Obra:
Laio e Jocasta são o rei e rainha de Tebas, e eles têm um filho, levam-no no oráculo para saberem qual o seu futuro, e lá o oráculo lhes diz que o seu filho iria matar seu pai e casar-se com sua mãe. Seus pais com medo que se tornasse verdade a profecia tentam fazer de um jeito que ele, o filho, morra. Laio manda seu servo matar o bebe e o servo tem piedade do filho e o prende pelos pés em uma arvore e um homem o encontra e o entrega a um casal que lhe chamam de Édipo. Édipo cresce e enquanto andava em uma estrada se depara com um homem, por alguns motivos lhes mata. Tebas, agora, esta sem rei, pois Laio está morto, e a cidade enfrentava uma peste e é anunciado que quem resolvesse o enigma da esfinge se tornaria rei e se casaria com a rainha. Édipo resolve o enigma e se torna rei. Ao passar o tempo Édipo descobre que a profecia se cumpriu, pois se casou com sua mãe e matou o Laio, seu pai, e por ele ter lançado uma maldição no homem que matou Laio, ele sofreu sua própria maldição.
PROJETO DE CENA
Personagens:
1. Édipo Rei: Rei de Tebas. É um homem forte e corajoso
a. Figurino: Calça jeans preta, camisa branca, sapato social escuro
b. Maquiagem: Rosto natural
2. Jocasta: Rainha de Tebas. Jocasta é uma mulher boa com seu antigo servo.
a. Figurino: Vestido azul, sapato baixo
b. Maquiagem: Pó branco no rosto.
3. O Coro: Um grupo de anciãos de Tebas
a. Figurino: Pano branco em volta do corpo
b. Maquiagem: Pele ressecada com aparência velha.
4. Corifeu: Personagem principal do coro que se destaca.
a. Figurino: Calça jeans clara, camisa amarela e sapato social escuro
b. Maquiagem: Rosto natural
5. Creonte: Irmão de Jocasta. Homem bom que ajuda as pessoas do palácio.
a. Figurino: Calça jeans clara, camisa preta e sapato social escuro
b.Maquiagem: Rosto natural
Cenário: cadeiras no centro da sala
Iluminação: luz de todos os refletores em nível baixo
Sonoplastia: Canção “Blake Shelton - Do You Remember” em volume baixo
Espaço Dramático: Em frente ao palácio onde os Reis ficam em seus tronos
Espaço Cênico: Cadeiras normais representando ao trono do rei e rainha.
Fragmento da peça
Entra JOCASTA
JOCASTA- Por que vocês provocaram esse imprudente debate? Não vos envergonhais em discutir questões íntimas, no momento em que o país passa por essa situação? Volta a teu palácio, Édipo; e tu, Creonte, a teus aposentos. Não exciteis, com palavras vãs, uma discórdia funesta.
CREONTE- Édipo, teu marido, ó minha irmã, julga acertado tratar-me cruelmente, impondo-me ou o desterro para longe da pátria, ou a morte.
ÉDIPO- É verdade, minha esposa. Acusei-o de conspirar contra a minha pessoa.
CREONTE- Que seja eu desgraçado! Que eu morra se fiz tais coisas que falas!
JOCASTA- Pelos deuses, Édipo, - crê no que ele te diz! E crê, não só pelo juramento que ele fez, mas também em atenção a mim e a todos quantos estão presentes!
O CORO- Deixa-te persuadir, rei Édipo! Nós te pedimos!
Édipo se levanta de seu trono
ÉDIPO- Como, e em quê, quereis que eu ceda?
O CORO- Este homem não é criança, Édipo! Se ele fez este juramento verdadeiramente, respeita-o!
ÉDIPO- Vocês sabem o que ele pretende?
CORIFEU- Eu sei!
ÉDIPO- Podes falar!
CORIFEU- Não digas uma coisa assim, pois ele mesmo se votou á eterna maldição!
ÉDIPO- Vocês sabem que este pedido requer a minha morte ou o meu exílio?
CORIFEU- Não! Pelo Deus supremo! Por Hélios! Que eu morra, detestado pelos deuses e pelos homens se tiver pensando nisto! Mas a desgraça que me aflige, e a todo o povo de Tebas, já é bastante; não queiramos acrescentar-lhe novos motivos de desgosto!
ÉDIPO- (Fala enquanto se senta em seu trono) Que ele se retire, pois, ainda que disso resulte minha morte, ou o meu exílio desta cidade! Cedo a vosso pedido, ó tebanos! - e não ao dele; só o de vocês me comoveu! Creonte esteja onde estiver sempre o odiarei!
CREONTE- Nota-se que cedeste contra a tua vontade; mas sentirás remorsos, quando tua cólera se acabar. Um caráter como o teu é uma fonte de contrariedades.
ÉDIPO- Não me deixarás, finalmente, em paz? Queres, ou não, sair de Tebas?
CREONTE- Sim! Eu partirei! No futuro não me verás, nunca mais! Para os tebanos, porém, serei sempre o mesmo!
(Sai Creonte e Jocasta se levanta para receber Corifeu, e logo após se senta novamente)
CORIFEU- Ó rainha, por que não conduzes teu marido para o palácio?
JOCASTA- Farei isso quando souber o que aconteceu.
CORIFEU- Fúteis palavras provocaram vagas suspeitas; ora, mesmo o que tem pouco fundamento muitas vezes corrói o coração.
JOCASTA- E as ofensas foram recíprocas?
CORIFEU- Oh! Certamente que sim
JOCASTA- E que diziam eles?
CORIFEU- Melhor será minha rainha, se acabarmos esta discussão acabar no ponto em que ela parou, pois já passamos por outras dificuldades!
ÉDIPO- Mesmo tu querendo o bem, Corifeu, vês aonde chegamos? E tudo porque negligenciastes de meus interesses, e deixaste diminuir a afeição que tinhas por mim.
O CORO- Já muitas vezes te dissemos, ó príncipe, que nós seríamos em nossa própria opinião, loucos e imprudentes se te abandonássemos agora, a ti, que nos puseste no bom caminho quando a pátria padecia! Tu és hoje o nosso guia!
Momento de silêncio
JOCASTA- Mas, pelos deuses, Édipo, diz-me: por que razão te irritaste?
ÉDIPO- Vou te dizer, minha mulher, porque te admiro mais do que a todos os tebanos! Foi por causa de Creonte, e da trama que surgiu contra mim.
JOCASTA- Explica-me bem o que houve, para que eu veja se tuas palavras me convencem.
ÉDIPO- Ele presume que tenha sido eu o matador de Laio!
JOCASTA- Mas... Descobriu ele isso, ou ouviu de alguém?
ÉDIPO- Ele insinuou isso a um adivinho, um simples impostor, porquanto ele próprio nada se atreve a afirmar.
JOCASTA- Não se preocupe com o que eles dizem; escuta-me e fica sabendo que nenhum mortal pode adivinhar o futuro. Vou dar-te já a prova do que afirmo. Um oráculo outrora foi enviado a Laio, não posso dizer se por Apolo em pessoa, mas por seus sacerdotes, talvez... O destino do rei seria o de morrer vítima do filho que nascesse de nosso casamento. No entanto, - todo o mundo sabe e garante, - Laio foi assassinado por ladrões estrangeiros, numa encruzilhada de três caminhos. Quanto ao filho que tivemos, muitos anos antes, Laio amarrou-lhe as articulações dos pés, e ordenou que mãos estranhas o levasssem a uma montanha inacessível! Nessa ocasião, Apolo deixou de realizar o que predisse! ... Nem o filho de Laio matou o pai, nem Laio veio a morrer vítima de um filho, morte horrenda, que tanto o apavorava! Eis aí como as coisas se passam, conforme as profecias oraculares! Não te aflijas, pois o que deus julga que deve anunciar ele revela pessoalmente!
Momento de silêncio
(Édipo se levanta e logo após Jocasta também)
ÉDIPO- Como isto me perturba, mulher! Como me conturba a alma!...
JOCASTA- Por que esta lembrança de nosso passado te deixa inquieto?
ÉDIPO- Suponho que disseste ter sido Laio assassinado num tríplice encruzilhada?
JOCASTA- Sim, disseram então, e ainda agora o afirmam.
ÉDIPO- E onde se deu tamanha desgraça?
JOCASTA- Na Fócida, no lugar em que a estrada se divide em duas, uma vai para Delfos e outra para Dáulis!
ÉDIPO- E há quanto tempo aconteceu isso?
JOCASTA- A notícia aqui chegou pouco antes do dia em que fostes aclamado rei deste país.
ÉDIPO-(diz isso olhando para o céu com aparência de agonia) Ó Júpiter! Que quiseste fazer de mim?
JOCASTA- Diz-me, o que tanto te impressiona?
ÉDIPO- Não me perguntes nada, ainda. Como era então Laio? Que idade teria?
JOCASTA-(Gesticulava para melhor compreensão de Édipo) Era alto e corpulento; sua cabeça começava a branquear. Parecia-se um pouco contigo.
ÉDIPO- Ai de mim! Receio que tenha proferido uma tremenda maldição contra mim mesmo, sem o saber!
JOCASTA- O que estas falando? Teu semblante me causa pavor, ó príncipe!
ÉDIPO- Estou aterrado pela suposição de que o adivinho tenha acertado... Mas tu me farás entender melhor, se me disseres mais coisas.
JOCASTA- Também eu me sinto inquieta... Mas responderei imediatamente a tuas perguntas.
ÉDIPO- Viajava o rei Laio com reduzida escolta, ou com um grande número de guardas, como um poderoso soberano que era?
JOCASTA- Ao todo eram cinco os viajantes, entre os quais um arauto. Um só carro conduzia Laio.
ÉDIPO- Ah! Agora já se vai esclarecendo tudo... Mas quem te forneceu estes detalhes, senhora?
JOCASTA- Um servo que voltou, o único que conseguiu se salvar.
ÉDIPO- E vive ainda no palácio, esse homem?
JOCASTA- Não. Quando voltou a Tebas, e viu que tu eras o rei, em substituição ao falecido rei Laio, ele me pediu, encarecidamente, que o mandasse para o campo, a pastorear os rebanhos, para que se visse o mais possível longe da cidade. E eu atendi a esse pedido, pois na verdade, mesmo sendo ele um escravo, merecia ainda maior recompensa.
ÉDIPO- Seria possível trazê-lo imediatamente ao palácio?
JOCASTA- Certamente. Mas... Para que chamá-lo?
ÉDIPO- É que eu receio senhora, já ter descoberto muita coisa do que ele me vai dizer.
JOCASTA- Pois ele virá. Mas também eu tenho o direito de saber, creio eu, o que tanto te inquieta.
ÉDIPO- Não te recusarei essa revelação, visto que estou reduzido a uma última esperança. A quem poderia eu, com mais confiança, fazer uma confidência de tal natureza, na situação em que me encontro?
Momento de silêncio
ÉDIPO- (Prosseguindo, em tom de confidência.) Meu pai é Políbio, de Corinto; minha mãe, Mérope, uma dória. Eu era considerado como um dos mais notáveis cidadãos de Corinto, quando ocorreu um incidente fortuito, que me devia surpreender, realmente, mas que eu talvez não devesse tomar tanto a sério, como fiz. Um homem, durante um festim, bebeu em demasia, e, em estado de embriaguez, pôs-se a insultar-me, dizendo que eu era um filho adotado. Irado, mas me controlei no momento, mas no dia imediato procurei meus pais e interroguei-os a respeito. Eles irritaram-se contra o autor da ofensa, o que muito me agradou, pois o fato me havia profundamente impressionado. À revelia de minha mãe, e de meu pai, fui ao templo de Delfos; mas fiz perguntas a Apolo e nada me respondeu, limitando-se a anunciar-me uma série de desgraças, horríveis e dolorosas; que eu estava fadado a unir-me em casamento com minha própria mãe, que apresentaria aos homens uma prole malsinada, e que seria o assassino de meu pai, daquele a quem devia a vida. Eu, ao ouvir isso, resolvi, guiando-me apenas pelas estrelas, exilar-me para sempre da terra coríntia, para viver num lugar onde nunca se pudessem realizar -pensava eu - as palavras que o oráculo tinha anunciado. Caminhando, cheguei ao lugar onde tu dizes que o rei pereceu. Vou te dizer a verdade sempre. Seguia eu minha rota, quando cheguei àquela tríplice encruzilhada; ali, surgem-me pela frente, em sentido contrário, um arauto, e logo após, um carro tirado por uma parelha de cavalos, e nele um homem tal como me descreveste. O cocheiro e o viajante empurraram-me violentamente para fora da estrada. Furioso, eu ataquei o cocheiro; nesse momento passava o carro a meu lado, e o viajante chicoteou-me na cara com o seu duplo rebenque. Ah! Mas ele pagou caro essa afronta; ergui o bordão com que viajava, e lhe bati, com esta mão; ele caiu, com a primeira pancada, no fundo do carro. Atacado, matei os outros. Se aquele velho tinha qualquer relação com Laio, quem poderá ser mais desgraçado no mundo do que eu? Que homem será mais odiado pelos deuses? Nenhum cidadão, nenhum forasteiro poderá o receber em sua casa, nem dirigir-lhe a palavra... Todos terão que me repelir... E o que é mais horrível é que eu mesmo proferi essa maldição contra mim! A esposa do morto, eu a maculo tocando-a com minhas mãos, porque foram minhas mãos que o mataram... Não sou eu um miserável, um monstro impuro? Não é forçoso que me exile, e que, exilado, não mais possa voltar à minha pátria de origem, nem ver os que me eram amigos, visto que estou fadado a juntar-se com minha mãe, e a matar meu pai, a Políbio, o homem que me deu a vida e me criou? Não pensaria bem aquele que afirmasse que meu destino é obra de um deus malvado e inexorável? Ó Potestade divina, não, e não! Que eu desapareça dentre os humanos antes que sobre mim caia tão grande vergonha!
CORIFEU- Também a nós, ó rei! Também a nós tudo isso emociona; mas tem esperança, aguardando a testemunha que tudo esclarecerá!
ÉDIPO- Oh! Sim! É a única esperança que me resta, a palavra desse pastor que aí vem.
JOCASTA- E por que a presença desse homem te poderá tranqüilizar?
ÉDIPO- Vou dizer-te já: se o seu depoimento coincidir com o que disseste, eu estou salvo!
JOCASTA- Que revelação teria sido essa, tão importante, que ouviste de mim?
ÉDIPO- Conforme declaraste há pouco, esse homem dissera que Laio foi assassinado por salteadores. Se ele persistir em tal afirmativa, não teria sido eu o assassino, pois ninguém confunde um homem só com vários. Mas se ele se referir a um só agressor, é evidente que fui eu quem matei à Laio !...
JOCASTA- Sim! Certamente! Ele o disse, e não poderá agora negar seu testemunho! Todo o povo o ouviu, então; não fui eu a única. No entanto, ainda que mude agora sua narração, nunca poderá provar que a morte de Laio foi obra tua, visto que pelo oráculo de Apolo o rei devia morrer às mãos de meu filho; ora, esse filho infeliz não poderia ter ferido a Laio, porque morreu antes dele. Em tal caso, eu não daria mais nenhum valor aos oráculos! ...
ÉDIPO- Tens razão. Mande, pois, chamar esse escravo, sem demora.
JOCASTA- Vou mandar, imediatamente! Mas entremos no palácio. Nada quero fazer, que te desagrade.
(Saem ÉDIPO e JOCASTA)